Microgeração de energia solar dispara 156% em sete meses
Em julho de 2016, Brasil chegou a 4.432 pontos de micro e minigeração, tendo encerrado o ano de 2015 com apenas 1.729, segundo a Aneel. Apesar do crescimento expressivo, especialistas alertam que número ainda é ‘gota no oceano’ e pedem mais financiamento.
O exemplo pode vir por acaso, do seu vizinho, como foi o caso do defensor público Anderson Marinovic. ‘Meu vizinho de parede estava fazendo obra e instalou o sistema de energia solar. Aí eu perguntei, Cadu, que negócio é esse? E ele respondeu: vou produzir energia na minha casa’, diz.
Com um investimento de R$ 27 mil, ele instalou, no início do ano, oito placas de captação de luz no telhado da cobertura dele, no Rio. O equipamento gera, em média, 200kWh por mês, representando uma economia em torno de R$ 150 mensais.
Pensando no aumento de consumo durante o verão, por causa do ar-condicionado, ele deve instalar mais duas placas e afirma que tem ‘orgulho dessas placas, dessa ideia de estar produzindo energia limpa. Confesso, chegou um amigo meu aqui em casa uma vez, tinha visitas, eu mostrei ‘olha só, dá uma olhada ali..’
O defensor público foi uma das 2.703 pessoas que começaram a gerar a própria energia por placas solares entre janeiro e julho deste ano. Antes disso, até dezembro de 2015, o número total de microgeradores de energia solar fotovoltaica no Brasil era de 1.729, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica.
Ou seja, um crescimento de 156,3% em sete meses. A alta foi grande, mas especialistas alertam que ainda é uma ‘gota d’água no oceano’, já que a energia solar representa apenas 0,01% da matriz energética brasileira.
MAIORIA DOS ESTADOS TEM ISENÇÃO DE ICMS
O custo de instalação é considerado alto. Os sistemas podem custar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil para abastecer uma família de quatro pessoas, por causa das peças importadas.
Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia, o preço vem caindo na última década, mas ainda faltam mecanismos para democratizar o acesso aos consumidores residenciais.
‘Neste ano, tivemos o anúncio de uma nova linha de financiamento, chamada FNE Sol, do Banco do Nordeste, para pessoas jurídicas, só que limitado à região de atuação do banco. O Banco do Brasil e a Caixa podem ter papéis importantes, já que têm grande capilaridade ao redor do país. É possível que eles acessem regiões que outros bancos privados ou regionais não consigam chegar. Com isso, vamos ter uma democratização’, defende Rodrigo Sauaia.
Quando o empresário Antônio Jales, que tem um fábrica de sorvetes no Rio Grande do Norte, instalou o sistema, por exemplo, não havia financiamento disponível e a negociação foi feita diretamente com uma empresa. Depois da crise hídrica, com o aumento da conta de luz após a aplicação da bandeira tarifárica vermelha, ele gastou R$ 2,2 milhões em 1.726 placas solares, com potencial de geração de 475kWh por mês.
Por falta de espaço no telhado da empresa, ele resolveu usar as próprias placas solares como cobertura no estacionamento. Com a economia de cerca de R$ 40 mil por mês, o empresário espera ter o retorno em até cinco anos.
‘Já terminei de pagar e estou negociando de novo com outras empresas para colocar 1mWh. Agora, vou colocar uma parte em cima dos telhados. Nós tivemos essa crise de energia, saímos da bandeira vermelha um dia desses. É uma energia renovável, a gente vê os exemplos no mundo todo sobre a mudança no clima. Não temos que esperar as desgraças acontecerem. Não tem como você não aproveitar uma coisa como o sol’, diz o empresário.
Desde 2015, o governo federal isenta de PIS e Cofins a energia gerada por placas solares que é injetada na rede. Outra política pública de incentivo comum no país é a isenção do ICMS, adotada por 20 estados (Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, São Paulo, Sergipe e Tocantins) e o Distrito Federal. Apenas Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina não oferecem isenção de ICMS.
Quem decide instalar o sistema pode ter baterias para armazenamento próprio ou interligar os geradores com a rede pública. Essa nova opção só é possível desde 2012, após uma resolução da Aneel. Somente três anos depois, uma nova resolução permitiu a geração comunitária em prédios e condomínios, o autoconsumo remoto e a geração compartilhada.
Na prática, um condomínio pode ter um sistema conjunto entre os moradores, as pessoas podem gerar a energia em um ponto e consumir em outro ou ainda formar uma cooperativa para financiar o equipamento e repartir a carga gerada.
No entanto, segundo o empresário Bias Augusto Daré, que tem uma fábrica de inversores de energia gerada por placas solares, em São Paulo, o mercado consumidor ainda é restrito às classes A e B.
Ele alerta que ‘o que pesa hoje no país é a falta de um sistema de financiamento, como você tem em outros países. Com isso, você dilui o custo no tempo. Quem está colocando hoje no Sudeste? Quem é de classe mais alta, por uma questão de poder pegar o dinheiro sem financiamento e usar’.
Até julho deste ano, o Brasil tinha 4.432 pontos de microgeração de energia solar fotovoltaica, segundo a Aneel. Levando em conta a geração por estado, Minas Gerais lidera o ranking, com 973 pontos de microgeração. Em seguida, aparecem São Paulo, com 611, Rio Grande do Sul, com 477, e Rio de Janeiro, com 435. Na contramão, Amazonas e Mato Grosso têm apenas dois pontos de microgeração.
A liderança mineira foi motivada pelo fato de o estado ter sido pioneiro na isenção do ICMS, além de também ter estabelecido uma política estadual de incentivo, ainda em 2013. O estado também tem índices de incidência solar parecidos com os estados do Nordeste.
Segundo o membro do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp Ennio Peres da Silva, a consciência ambiental está entre os principais motivos que levam à instalação de placas solares. No entanto, a economia na conta de luz e o medo de ficar sem energia elétrica em caso de apagão ainda são pontos fortes para os consumidores.
O especialista lembra que ‘aquela ameaça de faltar energia levou as pessoas a buscar alternativas. Então, houve um pânico. O que a gente já observou em outras crises é que as pessoas agem mais por medo da falta do que por medo do aumento (da conta de luz)’.
Segundo a Aneel, Acre e Roraima são os únicos estados que não têm nenhum ponto de microgeração de energia solar.
OS CINCO ESTADOS QUE MAIS TÊM MICROGERADORES (Fonte: Aneel)
1º – Minas Gerais (973)
2º – São Paulo (611)
3º – Rio Grande do Sul (477)
4º – Rio de Janeiro (435)
5º – Paraná (370)
Fonte: CBN |Pedro Henriques
Fonte: https://cerne.org.br/microgeracao-de-energia-solar-dispara-156-em-sete-meses/